domingo, 27 de julho de 2008

A noite às avessas


Do teu céu senti o cheiro doce e melífero... aquele teu perfume enlouquecedor me banha em frescor e amanhecer...
Deslizei suave os lábios em tua alva tez... aos poucos teu gosto foi se revelando...
Macia, sinuosa e quente, abracei tuas infinitas terras, enquanto o relógio parava o selvagem cavalo do tempo... agora beijo tua boca...
Teus cabelos flagelam meu rosto, enquanto inundas minha boca de vontades e malícias...
Meus olhos riscam toda a superficie da tua carne... és porcelana pura, vidrificada nos devaneios de um paraíso, outrora sonhado por um Deus... sinto que não tens fim... nem reconheço onde começamos a nos desejar...
Tenho agora na minha língua, o sabor da mulher das águas e nas asas de mil borboletas vagueio por este céu de negras estrelas...
Sei que é pleno dia... sem medo, com vontade, mergulho firme por uma fenda desta noite lactea...
Ruge a madeira e o metal... almas fervem... brotam gotas de suor, cintilam nas faces... os olhares fagulham para o incêndio que vem a seguir... em minha boca seguro o teu grito surdo... um murmúrio lânguido...
Devoro teu êxtase, gole por gole... enquanto saboreio teu banquete de seda pura... fundindo o movimento ao corpo... o momento da nossa dança...
Derrama a tua chuva... molha minha face... inunda minha alma... abraço forte, sinto teu corpo e tua flor orvalhando...
E quando o tempo insiste e voltar a correr... olho para este céu...
tua íris perde-se ao longe...
Enquanto me despeço desta noite tao clara, tão alva como o mais puro caulim, vejo-a cravejada das mais belas e cintilantes estrelas de pérola negra...

O nosso dia não acabou... apenas está começando...

sábado, 26 de julho de 2008

Tudo aquilo que a Lua esqueceu de ver...


A boca
Quando te vi, não só a boca estava nua... tua alma me olhava de lábios entreabertos... vontade crua...
Na língua ávida, esse brilho quente, um convite a um mergulho profundo, intenso... irresponsável... displicente, como o tempo e o gosto de infância...
o enlace molhado... sorver teu gosto, dissolver-me completamente em tua sede...
quando em teu colo... me calo e sonho...
mergulho num poço de escura ternura... abrigado no calor de uma alma alada...
que nos faz planar além da fronteira com a loucura...
Nesse ninho, conspira a magia do mais simples toque... e transborda em rios o suor, o suspiro, o afago sem fim... o olhar em êxtase... e aquele sorriso malicoso, de quem ultrapasou o último portal do desejo...
Agora repouso ao lado do teu eu... permaneço entre o abraço da sua pélvis e adormeço no transe de uma saudade...
ansiando por mais um despertar desejoso...

O palácio
Nos braços agasalho meus sonhos e comemoro as mais simples vitórias...
Ainda estou pronto para todas as guerras... confio em minha lâmina forjada em aço azul... nas chagas trago o aço da tua lança, os dardos do teu ódio... mas não conseguirá me envenenar...
O manto do Leão de Medéia, me foi dado quando ainda era uma criança...
não há perdão para aquilo que não me feriu... a lança em tuas mãos, certamente, sangrará muito mais...
Tuas coxas, são as colunas onde repouso meu corpo... onde encontro o sono dos deuses... no seu encontro, nasce a fonte da vida e verte o mais puro hidromel... néctar divino...
sem pudor, me banho do ventre a face...
Teus olhos, são a candeia que ilumina meu caminho... o cristal do dia seguinte... o talismã de brilho vítreo...
Teu vestido, meu véu e meu manto... ora me protege de te ver... outras aquece o coração... e instiga o desejo insano...
Tuas mãos, o passaporte... meu encontro com outras terras... onde saio de mim... e adentro sem pedir licença para além do horizonte...

A volta
Doce toque de pele, elétrico cheiro de pensamento e segredo...
Já estou contigo...
Como a uma fruta colhida no campo, dispenso os pratos e talheres...
Colho-te com as mãos, dispo-te com a boca...
E com os lábios sequiosos e inundados de vontade, sorvo a riqueza do teu momento...
Esse cheiro inebria e toma o ar... e nos conduz como melodia, na valsa da brisa dos teus íntimos sussurros... escuto atento a cada um...
Como o vento, vai e semeia a cada recanto... sem cerimônias, escapulindo... no ar, pelo ar... como um barco, desliza sobre a pele de cristal do mar... e vai além... e assim desvendo você...
Mãos que tocam por onde não se diz...
Nem sei onde, mas... prescisarei te buscar?
“Não”... aqui já a encontrei... e sinto roçar em mim teu cheiro de mulher...
Confundo-me com o prato que te sirvo... nem sei se te alimento ou se sou eu a quem devoras...
Faiscam teus olhos, ruge forte um leão no peito... descanso em paz, na força que sinto em saber que és feliz... viver e ser...

Quando embora fui, de certa forma, já estava voltando pra você...

O barco
Escuto o som dos mares...
Numa simples concha encontro a essência de todos os oceanos...
Em um sorriso mudo, farejo a brisa no ar... rajadas molhadas salgam minha face... navego em sonho de terra firme...
Floreio a cena com estrelas, que no mar são a salvagarda dos navegantes da noite...
A luz... o teu farol conduz a um caminho de amor, em meio a cumplicidade dos corais e a proteção dos arrecifes... não há medo em naufragar...
Não me importo que me toquem... pois na recompensa dessa odisseia estarei unguentando as feridas cicatrizadas, como vitórias de mais uma batalha vencida...
Calmo e brando... cumplice e atento... perco-me no firmamento... singrando a beleza de viver e amar... amar o simples... com espírito de grande conquista...
Suspiro baixo... mas não me contenho de estar cheio de felicidade... quem tem olhos para ver... saberá o quanto cresce esta invisível satisfação, vai explodindo... infinita e silenciosamente... em gratidão e amor...
Como um fumegante por-de-sol... que mesmo em silêncio, toma os confins e a metade do mundo... e esta metade hoje me pertençe...

Ainda serei aquele que é sempre atento e no meu nome carregarei pelos tempos o signo de todas as guerras...

Passageiro
Estava ali, como se a mão estivesse sempre estendida... a espera do toque tímido e desconfiado...
Não, isso nunca aconteceu... a verdade, é que recebi um sem número de oferendas... e por isso, as mãos se apresentavam...
Presentes estes, que internamente guardei... e nem aquela que os ofertou será capaz de tomá-los...
Em cada minuto de silêncio congelado, mesmo quando adormecida... percebi que algo gritava em ti... Tempestade...
Passeava com meus pensamentos, em quando contemplava, tateando de leve teu corpo com a íris... raidografando a intimidade de teus poros... decifrando as fragâncias do teu sorriso mais sutil...
Descobrindo em teus suspiros, o gosto dos teus sonhos...
Os sonhos e teus gostos...

Senti alegria no peito... em poder velar por ti... conhecer-te, desvendar sua escuridão... num céu negro, derramado sobre estrelas maduras...

segunda-feira, 30 de junho de 2008

O vento...


"O vento passeia entre os reluzentes fios da cascata negra que te escorre pelos ombros...
A seiva borbulhante, mesmo gelada, aquece o coração... e lhe tira aos poucos, um sorriso suave...
Norteia o teu caminho as belezas nascidas em brisas que falam ao pé do ouvido...
E salivam palavras de querer...
São como cachos de estrelas, soltas no mar...
A dureza da muralha, a lança mortal, não consegue esconder a suavidade de ser ave...
De plumas claras, sinuosa e delgada... fênix de envergadura invejável...
Onde estão teus pés ave do paraíso?
Hoje vi a lua beijar a terra gélida e terna... enquanto o sol rompia o fimamento, veloz, pra varrer o frio da noite passada...
A dor do nascimento transformou-se em cor... o milagre diário abraçou o mundo, mais uma vez...
O riso da criança acalmou a dor da espera...
Quantos olhos brilharam ao ouvir teus simples desejos... olhos de inesgotáveis centelhas, que velam por tí...
Do alto avista uma Constantinopla de areia e sonhos... o vento não soprou... e por ti ... não, nunca soprará...
ele quer teu caminho quente... e apenas voltar a lampejar furtivo ao teu ouvido...
Pergunta: Não queres voar?
Tens asas, ave do paraíso... nasceste sem pés para poder cumprir a sina de voar pelo tempo dos tempos...
Singrar os ares, tendo como teu leme tua bela face... teus olhos são como os mapas da felicidade certa...
És do ar... da terra infinta que abraça sem te tocar... enquanto desenha o caminho sob tuas asas...
Até chegar as frutas doces, que te beijam enquanto tu as devora e saboreia...
Na troca mais simples do ar, pelo ar...
Mergulha nesse azul infinito... de peito e alma abertos...
Recusa as ofertas das asas negras de Ísis...
Cinge o pescoço com um colar de ostras maduras, cravejadas com estrelas peroladas...
Rasga o manto da surpresa... pois, és alma única, onde habita um coração no paraíso de ser ave...
Toca de leve com tuas plumas o rosto do vento... que sorri jocosamente e agradeçe com humildade serena... por estar imerso em felicidade."

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O começo...


O querer é algo involuntário... como respirar...
Perde-se o fôlego no desejo, mas de súbito, tem-se ou não o usufruto...
Ter... é questão de ser abençoado... de estar por um segundo coroado... e totalmente embriagado por viver e compartilhar momentos indivisíveis...

Lembrar... é saber que um dia fui digno da dádiva e do prazer ali descobertos... revividos e reinventados... sentidos infinitamente, mesmo que por um instante apenas... do fim para o começo... mergulhados, num começo sem fim...

Esquecer... como farei isso?
Um sopro íntimo... uma fragância vinda das frutas mais desejadas...
Me deito ao teu colo... colho um beijo orvalhado de vontades... quero apenas um abraço... tomar pra mim o calor real do teu corpo...
E nele encontrar a melhor das despedidas...

Agora guardo em mim o melhor de ti... acredite, não é pouco...
e aquilo que ainda estava escondido... assim continuará... e por todo tempo dos tempos, ficará guardado na casa sem nome... onde transita o homem que perdeu o rosto...
E agora ela poderá deitar aliviada...

O adeus nunca é suave... pois mesmo assim, nunca estarás longe...
A mão continuará aberta... e o coração ainda será um abrigo... pois este, não cansa de bater... nem tão pouco de amar...

Tudo parece familiar agora... quando vivido... sentido... desejado...
não digo que são familiares, por que são parecidos com outros momentos passados... são familiares porque, parece que há tempos eu já os vivia...

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

No caminho do prazer inacabado...


Suas asas de pêlos macios envolvem e flutuam no meu pensamento...
Nas lembranças doces de tardes juvenis, no gosto ácido do desejo que não tem freio...
Essas asas que parecem abrir-se ao infinito... Encontram-se unidas num corpo delgado... lângido... úmido...
Atiça meu desespero de sorver a infrutescência madura que se esconde em tuas asas...
Numa vontade sussurrante... que ecoa fundo... buscando fazer subir nessas peças aladas e aveludadas...

O açoite rígido do corpo... o mergulho profundo e sereno...
Minuciosamente calculado... injetando sabor e ânsia... extraído uma explosão lenta e avassaladora...
Quero estar em ti pela eternidade desse momento sem explicação... o grito surdo vira música e dá rítimo para o corpo...


Quero debruçar o corpo e navegar nas suas águas quentes e cálidas...
Acompanhar em galope um rebanho colorido de asas, que por pouco não posso tocar... pois voam soltas a minha frente...
Abrir caminho nas montanhas e vales... banhar-me nas cachoeiras melíferas...
Sorrir jocosamente, olhando no fundo dos teus olhos...
E descansar no carinhos dessas encostas macias...
Em sua essência... tem algo que me faz te desejar mais e mais...
Quando assim estou... caminho ao topo do mundo e o tenho sob meus pés!

Na música quente da Lua que me encanta e faz bailar nos seus quadris... beijo sua face por horas infindadas...

E quando acaba... novamente começa o meu desejo...
Só encontro meu fim... na saudade... daquilo que ainda ficou inacabado...
E término, nunca terá... em mim...

terça-feira, 7 de agosto de 2007

A luz...


No começo era só luz... de tudo me falava... como que as palavras escorregassem da boca e era assim, simples... fluente e reluzente...
o brilho da íris, o reflexo da pele...
o sorriso de marfim...
até as palavras de carinho e desejo tinham um brilho sonoro e portanto, ofuscavam de forma envolvente...
faziam cerrar os olhos e divagar nas profundas e sinuosas estradas do bem querer... do estar junto...
caminhava sob o imenso manto azul do céu, vestido com o raiar quente do sol, e assim, nutria ainda mais essa querência de viver...
Todas as vezes, que sozinho retornei ao meu lugar, sentia o “estar vivo”...

Era a época em que os segredos de alcova eram menos importantes que o compartilhar dos banais anseios de cada dia... o êxtase da procura pela felicidade simples...
o riso franco... desprovido de máscaras e pudores...
o aconchego amigo... a paz infinitesimal de cada segundo passado juntos...
a refeição depois do banquete do corpo e da alma...
a partida e o prazer do reencontro...

tudo são escolhas... e assim, somos aquilo que escolhemos ser...
sem esforço...

terça-feira, 24 de julho de 2007

Volto ao caminho esquecido...


Meu caminho já não é tão esquecido.
Este caminho há muito deixara de ser transposto...
Plantas cresciam desordenadamente por todo lado...
Agora que tomei um fôlego, atrevo-me em um novo “passeio”.

Mais uma vez, pude vê-los...

Estavam parados, sentados bem ali, sobre as madeiras suspensas do lago...
Frente àquela velha árvore, que tem seu tronco submerso...
Pássaros de várias espécies repousam em seus galhos e vez por outra, buscam nas margens, alimento e água.
No horizonte mais um dia se vai... minguando aos poucos...
Rajando o céu com seus cromáticos raios... num espetáculo surreal...
Repousa em suas mãos duas magníficas espécimes de pombos, sua plumagem é como a mais pura seda...
Buscando sentir as suas formas, corre-lhe a mão em seus corpos...
Ambos eriçam por completo, a ponto de parecerem estar prestes a alçar vôo...
Sente nas palmas o toque dos seus afiadíssimos bicos, rijos, a rasgar-lhe o peito em vez das mãos...
Suas carnes firmes e voluntariosas deslizam entre as mãos, jocosamente....
Não se sabe mais se querem ou não livrar-se daquela prisão...
Aos sussurros conta-lhe estórias aos ouvidos, por entre a cascata negra de cachos revoltos, que lhe escorrem sobre as costas e ombros nus...
Fala-lhe do dia em que sonhara ter bebido de uma fonte a qual vertia o mais doce dos néctares...
Do perfume que emanava desses campos.... E o quanto gostaria de beber-lhe novamente.
Sente junto a si, um suspirar profundo e um hálito de flores orvalhadas...
Foi quando sentira suas mãos subitamente envolvidas... envolvidas por mãos que não vinham à guisa de libertar os pássaros, queriam sim, firmar-lhe na guarda e no afago destes...
Mais uma vez toca-lhes os bicos intumescidos...
E colhe um beijo...
arde-me o peito.

Queria esquecer onde estava e aonde ia...

Galgava alguns sonhos... que, naquele instante perdiam todo o sentido... queria prender o fôlego, perder-se no tempo e alçar vôo naquelas asas de pássaro...

A Lua é cheia...
Amo-a por testemunhar tão silenciosa a esta odisséia... seu olho sublima... é o único brilho no breu da noite... confunde-se entre as nuvens no arder do dia...
Este olho noturno ilumina os passos, me incendeia em seus devaneios.

Mergulha ao interior do lago, busca acalmar o incêndio que o consome...
Deita-se no tapete liquefeito que o envolve...
Devolve-lhe a plácida e provocante visão dos pássaros que a pouco repousavam em suas mãos...
Seus corpos revelaram-se tão mais belos quando banhados pelo frescor destas águas... sua plumagem torna-se viva e maciça, seu contorno é irretocável...
Estais a perguntar: Porquê?
Dispensas um sorriso ante este ar de calma e beleza irretocável...
Agora que o sorriso acontece, seu eu paira em pura calmaria...
Deseja-a no escuro dos seus dias... nos teus dias mais escuros.

Ele pergunta: Que me fizeste?

Deseja-a...
A pele que vagueia sobre a pele... pêlos e poros que se beijam...
Deitar a boca em seus infindos recantos... o gosto... o cheiro...
O lábio trêmulo quer sorver o beijo infinito... Abraçar o corpo, sentir-se junto... cada vez mais.

Ele enxerga aqueles olhos frente a frente... fortes, lânguidos, questionadores...
Brilham sem ofuscar... fogem... sem desaparecer por completo...
Queres vê-la, senti-la... estar em paz no silencioso envolvimento da sua companhia, deixar que os sentimentos fluam, ruidosamente...

A Lua é tão clara!
E diz-me sempre: “permita-se um delito... saboreie-o! Cumpra-se o desejo...”

Querem seqüestrar-te...
Estar ao teu lado, um pouco que seja...
para assim sentir-se nos pilares do mundo.

Quando fui traído... encontrava-me de pé, com os punhos cerrados...

Ele não podia roubá-la, pois nunca conseguiria trair a si...
Acredita demais os seus princípios, para que tenha de mentir uma vez sequer...
Não quer que lhe pertença, apenas que desfrute...
Dos risos... do silêncio...
Da carícia fraterna, do segredo mais simples...
Quer ser seu cúmplice...
Enquanto chega o verdadeiro acalento...

Não me possuas com a sua ausência!

O caminho agora é verde, há um mar folhas que despencam bailando nos ares antes tocarem a face jovem da terra...
É bem verdade...
Meus amores estão em toda parte, salve!!!
Desejo um cigarro...
Mas, não penso em traga-lo... apenas, vê-lo arder... até o seu fim...
enquanto o tempo obrar seu “lavoro”, de consumir... e consumir...
Mesmo inconformado com a falta que fazes, posso ainda ousar em sorrir...
Pois ainda guardo em mim um pouco de ti.